Veredas: ramagem e amar em água

Com buritizais a perder de vista, as veredas são formações do Cerrado retratadas por Guimarães Rosa em toda sua beleza e simbolismo. São áreas úmidas, de solo encharcado e rico em matéria orgânica, nas quais afloram nascentes de cursos d’água.

Estas áreas brejosas contribuem para que os córregos e rios do Cerrado tenham permanente disponibilidade de água, pois funcionam como drenos naturais, retendo a umidade mesmo em períodos de seca. São ainda importantes corredores ecológicos para animais silvestres, fornecendo refúgio, alimentação e local de reprodução para a fauna terrestre e aquática. 

Em áreas de escassez de recursos hídricos, comunidades sertanejas estão intrinsecamente associadas à riqueza de recursos que ali encontram. Entre as veredas – verdadeiros oásis na região – organizam seu espaço, sua produção, sua permanência, sua identidade. 

Mas em decorrência de severos impactos ambientais, como a sobre-exploração dos recursos hídricos, a degradação das áreas naturais, a intensiva atividade agropecuária e o uso indiscriminado de queimadas, as veredas estão perecendo a cada dia. Tão belo quanto frágil, este sensível ecossistema demanda cuidados para permanecer perene, proporcionando riqueza em seu mais amplo sentido.

Imagens de Maria Ribeiro e Mariana Cabral

“O senhor estude: o buriti é das margens, ele cai seus cocos na vereda ― as águas levam ― em beiras, o coquinho as águas mesmas replantam; daí o buritizal, de um lado e do outro se alinhando, acompanhando, que nem que por um cálculo.”

“sai uma vereda para o nascente e outra para o poente, riachinhos que se apartam de vez, mas correndo, claramente, na sombra de seus buritizais…”

“E como cada vereda, quando beirávamos, por seu resfriado, acenava para a gente um fino sossego sem notícia ― todo buritizal e florestal! ramagem e amar em água.”

Trechos de João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas


*Isabela Lazarotti é bióloga do Instituto Biotrópicos, onde atua para a educação ambiental, desenvolvimento sustentável e conservação.

**Maria Ribeiro é fotógrafa e diretora de fotografia, autora do livro Nós, Madalenas – uma palavra pelo feminismo.

*** Mariana Cabral é artista visual, fotógrafa e buscadora de histórias.

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