Com trechos de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa
… meu rio de São Francisco, nessa maior turvação: vim te dar um gole dágua, mas pedir tua benção…
Perto de muita água, tudo é feliz.
Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: a coragem minha. Buriti quer todo azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho.
E como cada vereda, quando beirávamos, por seu resfriado, acenava para a gente um fino sossego sem notícia – todo buritizal e florestal: ramagem e amar em água.
O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retumbando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso…
E seguimos o corgo que tira da Lagoa Suçuarana, e que recebe o do Jenipapo e a Vereda-do-Vitorino, e que verte no rio Pandeiros – esse tem cachoeiras que cantam, e é d’água tão tinto, que papagaio voa por cima e gritam, sem acordo: – É verde! É azul! É verde! É verde!…
* Kika Antunes é fotógrafa e artista visual