Árvores do Sertão: Barriguda

É impossível deixar de perceber uma barriguda quando ela se faz presente!

Seja observando ao longe, seja tendo uma surpresa quando dobramos uma curva numa trilha qualquer, seja admirando fotografias ou filmagens. Lá está ela, que por vezes pode chegar a até 30 metros de altura, sempre se destacando ao lado das companheiras árvores, estas outras quase sempre desfolhadas e mirradas, mas tão fortes quanto as barrigudas, senão não estariam todas lá.

A paisagem da caatinga ou da mata seca, onde a barriguda gosta de ficar, exige o custo da adaptação. Todas as plantas têm que saber economizar a pouca água que aparece. E elas encontram mecanismos incríveis para guardá-la – debaixo da terra, nas folhas, nos caules, suportando longos períodos de estiagem…

Água!

Numa época de grande escassez, sem avisar em que ano vai aparecer em maior quantidade, deixando os rios atônitos, pois, sem ela, deixam de ser rios!

E a barriguda permanece lá! Ela soube guardar água em seu caule redondo. Por isso, não perde o viço – produz flores e frutos lindos que aparecem com data marcada, entre agosto e outubro, e se mostra sem pudor, exibindo sua barriguinha charmosa e única. É uma árvore vistosa, alta, cheia de vida.

Como sempre foi notada, as pessoas quiseram descobrir seus mistérios. Por que permanecia garbosa em meio a uma paisagem aparentemente sofrida.

Cortaram seu caule, investigaram seu miolo, descobriram que sua madeira, leve e maleável, longe de sustentar casas ou pontes, era boa para dialogar com outros elementos. Ela é excelente na conversa com a própria água, pois é boa para o estofo de boias, barcaças, para fazer canoas e balsas:  muita barriguda já navegou pelo São Francisco! É hábil também para dialogar com o calor, pois é muito eficiente como isolante térmico, permitindo a manutenção do frio em câmaras frigoríficas e geladeiras. Ela também gosta de estar com as crianças, pois permite a criação de brinquedos e outros adereços, lápis e papel. A barriguda dialoga com todos, porque permite a fabricação de caixotes, engradados, tamancos, gamelas e cochos. Dialoga até com o ar, pois é usada na fabricação de aviões e aeromodelos!

Quanto uso!

Mas, o que queremos mesmo é que ela permaneça lá – na caatinga ou na mata seca. Quando muito, podemos furtar algumas de suas mudas para enfeitar nossas praças e ruas e produzir um pouquinho de sombra quando o sol está mais alto e forte. Nossas cidades precisam de mais árvores!

A imagem que fica é a da grande mãe grávida! Mãe d’água, mãe sertaneja, prenha de vida, cheia de graça e charme! Que resiste à seca, à sanha, ao saque. Que rebrota a cada temporada de chuva. Que abriga a fauna, alimenta periquitos e papagaios. Que dá sombra, que exala perfumes e brotos, que marca presença, que afirma a beleza, que se espalha pelo vento, mas só brota em terra boa.

Amém!

Imagem em destaque: André Dib (WWF Brasil)


* Bernardo Gontijo é biólogo, geógrafo, professor na UFMG e amante do Cerrado

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