Árvores do Sertão: Baru

A castanha-do-pará, a castanha-de-caju e… o baru!

A castanha de baru tão apreciada é semente de uma árvore frondosa que cresce principalmente no Cerrado. Por se distribuir por vários estados do Brasil, recebe diferentes nomes de acordo com a região: é fruta-de-macaco, pau-cumbaru, cumarurana, castanha-de-burro, barujo, coco-feijão entre outros tantos apelidos.

Ilustração: Nathalia Falagan

Fui conhecer o baru pela primeira vez em Sagarana/MG. Ouvi o barulho do baru antes de vê-lo de fato. Uma senhora em seu quintal cortava o fruto ao meio para a retirada das sementes. Com movimentos precisos, batia um pedaço de madeira maciça contra o fruto sobre uma lâmina afiada e parafusada na bancada. Ouvi, fui puxar prosa, acabei comprando uma garrafa pet cheinha das sementes, já torradas, que me dariam energia na caminhada. Um montinho eu ainda levaria de volta para a cidade grande. Lembrança que carregaria da vida do ser-tão.

O baru é da família das leguminosas, parente do feijão, da ervilha, da lentilha… Plantas que estão comumente presentes em nosso prato, mas que têm origem estrangeira. O baru é diferente. É brasileiríssimo! Nativo daqui. Surgido e criado no Cerrado. O pé de baru tem altura média de 15 metros. O tronco tem casca cor cinza-claro, podendo ser liso ou descamante, com casquinhas menores de formato irregular e reentrâncias de cor creme. Sua madeira de boa qualidade e dureza sustenta casas e compõe as cercas de terras interioranas.

A copa da árvore é alongada e dá uma sombra fresca, deliciosa nas tardes quentes do sertão. Embaixo cabe até uma mesinha para sentar com amigos e familiares. As folhas de um verde vivo folha-folhagem, como diria Guimarães Rosa, são compostas, divididas em folhas menores. E, quando caídas no chão, contribuem para o aumento de matéria orgânica e nutrientes no solo, beneficiando a sobrevivência de outras plantas que precisam de mais umidade.

Pé de baru_Foto_Kika Antunes
Dona Antônia e Seu Cassu retornam da cata de baru. O pé adulto pode chegar a 15 metros de altura. Foto: Kika Antunes

As flores do baru são pequeninas e brancas, dispostas em conjunto. Ficam lado a lado, formando grupos de 200 a 1.000 flores por cacho no alto da árvore. As abelhas realizam a polinização e as flores cedem lugar aos frutos, que são ovoides, levemente achatados e de cor marrom-claro. Quando amadurecem, não mudam de coloração. Então a melhor dica para colher bons frutos é catar do chão! Tanto a polpa quanto a semente são comestíveis e ricas em energia e sais minerais. Seus frutos costumam amadurecer na estação seca, momento em que existe menos comida no Cerrado, o que torna o baru importante alimento para vários bichos – morcegos, roedores, gado, macacos e, inclusive nós, seres humanos. Dentro do fruto existe uma única semente com casca lisinha e marrom. Da parte mais dura e fibrosa do fruto é feito carvão para cozinhar quitutes e ferver água pra um cafezinho dos bão.

Além da relevância ecológica e alimentar, trazendo inúmeros benefícios à saúde, o baru também é fonte de renda para muitas famílias. As castanhas, ou sementes, são comercializadas e, devido a sua alta produtividade, facilidade de transporte e armazenamento, ganharam espaço em feiras, deliciosas receitas e até viabilizaram o Cine Baru – mostra de filmes no sertão! Entretanto, a castanha do baru não é tão famosa como a castanha-do-pará ou a de caju. Infelizmente, conhecemos muito pouco sobre o baru e ainda não associamos o extrativismo à uma coleta sustentável, em que a gente pense nas pessoas, nos bichos e nas plantas. Todos juntos, frutos da mesma Terra. A fragmentação do Cerrado, a expansão do agronegócio e o corte de baru por interesse madeireiro têm se mostrado fortes ameaças às populações do Cerrado, colocando em risco a sobrevivência dessa planta e das pessoas. Que a semente do baru incentive e germine o cuidado com nossa biodiversidade. Que a gente conserve e tenha cada vez mais carinho pelo Cerrado e pelos povos do sertão.

Imagem em destaque: Kika Antunes


* Luísa Azevedo é bióloga, botânica, artista e pesquisadora das plantas que crescem sobre os inselbergs

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