Diz

Sonhá com peixe. Se você sonhá com peixe Curimatá de escama, é bom. Se você sonhá com surubim, é morte. Alguma coisa vai acontecer, assim, de perigoso no rio. Eu sonhei uma vez com meu menininho, o barco afundando com meu menininho, aí eu cheguei lá minha esposa tava trabalhando, o Buiuzinho meu tinha uns 4 anos, gostava de vim comigo pro rio, 4 pra 5 anos, aí eu falei “Ô rose, eu sonhei”, que esse tempo não tinha rabeca não, era no remo mermo ne? Eu falei “Ô rose, eu sonhei com Buiú morrendo e o barco virando comigo, eu num dei conta de pegar Buiú e ele ta chorando muito pra mim ir pro rio”. Na hora que eu cheguei no serviço dela falando ela falou “então ele num vai não porque essa noite também eu sonhei”. E sabe o quê que aconteceu? Deu uma ventania tão forte, o barco tava apoitado, apoitado é o barco parado, e eu sem saber o quê fazia, se eu desapoitasse o barco, o barco virava. E era no remo e nesse tempo os barco era menor. E ficou aquela confusão. E ninguém teve coragem de ir lá. Aí chegou uma lanchona grandona e me viu lá e foi lá buscar. Quando chegou lá que eu tirei apoita o barco virou. Eu falei “olha pra você vê como que é”. Deu sorte que ele não foi.

Essa é mentira mesmo viu? O cara saiu pra poder morar na beira do rio, aí tava ruim de peixe e ele foi pra pegar melancia pro filho dele chupá, um menininho pequeno, aí saiu pra poder rancar duas melancia porque a mãe falou “vai lá rancar duas melancia pro filho chupá” e foi. Perto de um arroizal, tinha uma cobra que dava catorze metro. Essa cobra veio pra comer o cara. No que veio pra cumê o cara o cara jogou as duas melancia nela. Ela engoliu as duas melancia. Tava com um facão na mão ele rumou o facão, ela engoliu o facão, e ele saiu correndo “muiê, muiê, muiê, abra a porta muiê, que a cobra quer me comê muiê”, e saiu correndo. E tinha uma varandinha assim ele passou pela varanda, a muiê não abriu a porta, ele jogou um banquinho na cobra, a cobra engoliu o banquinho. Na hora que ele rodeou a casa, a muiê abriu a porta, saiu o menino. Aí a cobra pegou foi e engoliu o menino. No que engoliu o menino a mãe ficou desesperada, que a mãe é doida mermo ne? Correu com uma faquinha e furou a cabeça da cobra, a cobra morreu. Aí ele falou “e agora o menino? Vão partir a barriga da cobra” na hora que partiu a barriga da cobra sabe o quê que aconteceu? O menino tava sentado no banquinho cortando as talhada de melancia e chupando.

Muita gente acredita e outros não acredita, toda sexta-feira passa um ouro aqui por cima da cidade, que sai da serra da canastra e vai pro morro do chapéu, ali. Todo pescador que fica pescando aqui sabe que de três em três terça-feira esse ouro passa. Ai o quê que acontece? Eu já cansei de ver ele. Tem um menino, o pai dele já morreu ne, ai desde pequeno, hoje ele já ta mais ou menos da minha idade, aí ele contava que ele ficava sentado com o pai dele e passava aquela bola de fogo, viajando, aí ele pegava e virava, falava com ele assim “oia lá meu filho, ali ta indo a fortuna, quem desencanta aquela fortuna vai ficar rico demais. Ce conta meu filho, que toda terça-feira, oia aí ô, passou hoje, é terça feira, agora três terça-feira, se esse oro não vai passar” Aí ele alembrava disso e ficava contando. Aí a observação que eu fiz. Se você marcar a terça-feira certinha que ele passa, na terceira terça-feira torna a passar. Muita gente já cansou de ver. Só que na hora que vê aquela bola de fogo que vai indo e vai indo e até some. É mistério? É. Mas todo mundo ta vendo.

Imagem em destaque: Maria Ribeiro


*Carlúcio é pescador, contador de histórias e comerciante em Januária/MG.

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