Todo verso que eu recito

Me pediram que, em poesia, eu falasse de um Estado,
falar de sua cultura, sua tradição
e falar principalmente do sentimento
que é pertencer a essa região.
E poderia eu em um repente, bem de repente,
expressar apressadamente o pertencer,
nunca querendo sair daqui,
mas eu quero é lentamente.
E pertencendo, eu falo de Minas, o nosso Estado,
tão velho e cansado
por isso rico lotado de cultura e tradição.
Se eu começasse a contar da ginga que a vó dança,
da folia que o velho avô cantou,
da saia de renda pra quadrilha que a tia costurou,
do milho que o seu pai plantou,
seria a poesia fresca e pura que nasce dentro de Minas,
dentro de nós… nosso Estado;
Estado de alegria o trabalho é todo dia
e o sofrimento do homem do campo acaba virando poesia,
pois quando seu Francisco deita cansado seu esforço é a valia.

Minas por ser Estado acaba sendo sentimento.
Ser mineiro é um segredo, não dá pra explicar,
tá no sotaque puxado, o jeito de conversar,
no tempero da comida, jeito bão de cozinhar,
é um trem no meio de tudo
e um negócio que a gente nunca sabe onde tá.
Volto a dizer, Minas é um sentimento, é um pertencer,
não importa pra onde vai, vai desembestar querer correr,
voltar pro seu pai, pra sua mãe, pra terra velha que te viu

[crescer,

terra velha que viu a história acontecer,
viu o povo negro sofrer,
a senzala acorrentar não só o corpo, mas também a ideia de viver.
A história não nos deixa esquecer,
o ouro roubado, o sangue derramado,
pedras sobre pedra que construíram o Estado.

Minas tem de tudo, pode até não ter mar,
mas não é um desafio
porque magnífico é o nosso Rei conhecido como Rio,
que tem nome de Santo… Santa seja sua água.
O São Francisco é um mistério desde quando nasce
e corre menino, quando deságua já é Velho Chico.
Aqui no Norte, banhada pelo rio,
também com nome de Santo também com nome de Rio
tem uma cidade.
E o povo ainda se lembra como se canta folia,
como o boi de Reis dança, como se gira uma quadrilha,
como em roda se recita uma poesia
e a cultura de plantar a terra
pra nunca ter barriga vazia.

Ainda nessa cidade, banhada por um rio,
dentro desse Estado, que é um sentimento,
tem uma escola, onde se aprende um ensinamento
que é respeitar a terra e sua riqueza,
entender a beleza do respeito à natureza.
A EFA Tabocal sempre teve esse conceito,
como nosso Estado tão amado,
respeitar tudo que estiver ao nosso lado.
Não há nada mais simples e singelo do que cultivar,
quando se planta a terra se cultiva uma semente
ou um sentimento cultivando o verbo amar.
Tanto estado, quanto cidade, quanto escola,
mostra que a agricultura é a base de uma nação,
desde o pequeno plantio ou a grande produção,
se o homem do campo não planta e enfrenta a luta contente,
não há pra onde correr, a cidade não vai pra frente.

Então, não é só uma poesia, é também uma gratidão
por todos que cultivando a terra sustentam essa nação
e principalmente por aqueles que lutam pelo campo e

[ainda sim,

têm forças pra lutar pela educação.


* Vanessa Madureira Vieira é filha de pais agricultores, desenhista, poetisa e estudante da EFA de Tabocal, São Francisco

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